Espelho, espelho meu… e povo também…
- lincolnamfilho7
- Apr 14
- 2 min read

Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?
Ah, se o espelho soubesse o que é beleza. Se ele olhasse para além dos contornos do rosto, das maçãs do rosto esculpidas, do brilho do cabelo cuidadosamente alinhado. Se ele visse, de fato, o que habita por trás do reflexo.
A mais nova versão de Branca de Neve nos trouxe uma polêmica antiga com roupa nova: a vilã, interpretada por uma atriz estonteante, teria “roubado” o posto de mais bela da princesa. Os fãs reagiram: como o espelho ousa mentir desse jeito?
Mas será que o espelho mentiu mesmo? Ou será que fomos nós que, há muito tempo, confundimos beleza com estética?
O espelho da Rainha Má talvez não fosse mágico. Talvez ele fosse só... um reflexo do olhar do próprio reino. E se o reino enxerga apenas rostos — e não gestos — então talvez o espelho esteja mesmo dizendo a verdade. Uma verdade rasa, vaidosa, tão vaidosa quanto a própria Rainha.
Porque a beleza de Branca de Neve nunca morou na moldura de seu rosto, mas nos gestos que a faziam ser quem era. No modo como enxergava o outro. No afeto com que tratava os esquecidos da floresta. Na coragem de permanecer doce num mundo que a queria amarga.
Mas o povo... ah, o povo adora falar de amor, bondade e empatia. Dizem-se defensores dos animais, enquanto calçam sapatos de couro e fecham os olhos para os bastidores da indústria que sustenta seus hábitos. Pregam compaixão, mas curtem e compartilham vídeos de humilhação pública, lincham reputações com um clique e destroem pessoas escondidas atrás de uma tela. O discurso é doce, mas as atitudes, muitas vezes, são amargas — ou covardes. E assim seguimos: aplaudindo a vilania sedutora e debochando da bondade “insossa”.
A Rainha sabia disso. Apostou nisso. E vence todos os dias.
Talvez o espelho nunca tenha mentido. Talvez ele só tenha aprendido a refletir aquilo que preferimos ver. Por: Jakeline Placido Marcon
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